quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Certo e Errado

Estes dias eu estava na fila do cartório para autenticar e reconhecer a firma de um par de documentos enquanto lia Paulo Freire para passar o tempo. Por incrível que pareça ele não foi um autor que eu gostei da primeira vez. Sua insistência em expressões como “pensar certo” me incomodava um pouco. O que estaria escondido por trás desta expressão?

Quando se fala em pensar certo, automaticamente cria-se o pensar errado. Acho que muita coisa já aconteceu por causa desta separação que costumamos fazer. Certo e errado é bastante relativo. Tão relativo quanto quando duas pessoas de frente uma para outra e observando um objeto disposto entre elas e tentando referenciar as partes deste por direita e esquerda. Qual esquerda? Qual direita? “A minha direita ou a sua direita?”

Quanto ao certo e errado sempre cabe uma pergunta similar: “o meu certo ou o seu certo?”. Existiria um certo absoluto?

Além disto, somos seres muito sugestionáveis. Muitas vezes a forma como expomos uma idéia muda completamente nossa opinião, ou seja, o uso da língua pode mudar nosso conceito e julgamento, inclusive de certo e errado. Vejamos alguns exemplos abaixo, sugiro que pare após ler cada frase e reflita sobre sua resposta antes de seguir para a próxima.

É certo a maioria impor sua vontade à minoria? / É certo a democracia?

É certo causar o sofrimento em alguém para puni-lo? / É certo prender os criminosos?

É certo, em situações de necessidades fisiológicas ou psíquicas, utilizar algo de alguém sem sua permissão? / É certo a pirataria? / É certo o estupro? / É certo a pedofilia?

É certo obrigar alguém a cuidar de outro sem que este seja seu desejo? / É certo proibir o aborto?

É certo que você possa ler esta frase no seu computador? / É certo o capitalismo?

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